sábado, 2 de junho de 2012

A utopia política de G. K. Chesterton


Web

Embora de Chesterton eu só disponha da obra Ortodoxia, já pude escolhê-lo como um de meus autores preferidos, senão o principal. Sua escrita fascinante, posto que complicada, me cativou na primeira leitura, a ponto de eu, vez por outra, empreender uma releitura, ainda que não bem sucedida, de Ortodoxia.

Geralmente pra quem empreende releituras sem sucesso os primeiros capítulos das obras ficam bem mais conhecidos, pois é por onde iniciamos as releituras. No caso de Ortodoxia, isso vale também para um capítulo já mais avançado do livro, A Eterna Revolução, onde o autor expõe uma espécie de utopia política que me chamou bastante à atenção, dada a minha preocupação por essa área de atuação humana. Quando se trata da política segundo uma visão cristã ortodoxa, isso se torna ainda mais cativante.

Evidentemente que não conseguirei expor em toda a sua inteireza e profundidade, mesmo afirmando inicialmente tratar-se aqui apenas de uma simples resenha, da agudeza do pensamento de Chesterton expresso em A Eterna Revolução sobre a sua utopia politica. Ortodoxia é um livro carregado de analogias, exemplificações, ironias e expressões de uma riqueza linguística e intelectual muito profunda, o que torna qualquer tentativa minha de sintetizá-lo, mesmo que seja um único capítulo, por si só ofensiva e infiel ao grande gênio de Chesterton. A despeito disto, estou disposto a fazê-lo. Num momento posterior de meu desenvolvimento intelectual poderei melhor fazer jus às interpretações e descrições que esta obra requer.

Dentre outras proposições defendidas no conjunto de Ortodoxia, Chesterton chama à atenção para a necessidade de uma certa insatisfação que precisamos manter em relação às coisas da maneira em que se encontram.[1] Essa insatisfação, que por sua vez nos levará à atitude de querer mudar as coisas, precisa estar sustentada em alguns princípios e algumas exigências.[2] Os outros princípios, além do já citado (a insatisfação), são: “primeiro, que algum tipo de fé é necessário em nossa vida, até mesmo para melhorá-la;” segundo, um equilíbrio dentro de certas proporções, a propósito da convivência necessária entre contentamento e descontentamento, e, em quarto lugar, a verdade de que “precisamos gostar de outro mundo (real ou imaginário) para ter algo definido em que possamos transformar este mundo.”[3] Daí Chesterton optar pelo termo reforma, que segundo ele “significa que vemos determinada coisa fora de forma e queremos colocá-la em forma. E sabemos qual é a forma.”[4]

Mas o problema, lembra-nos Chesterton, é que o pensamento moderno do seu tempo prefere mudar indefinidamente a forma ideal, enquanto a realidade permanece a mesma sempre. Os homens de seu tempo não estão “alterando o real para que se adapte ao ideal”, mas “alterando o ideal: é mais fácil.”[5] Considerando, pois, que “enquanto a visão do céu estiver sempre mudando, a visão da terra será exatamente a mesma”[6], o autor chama-nos à atenção para a primeira exigência de sua utopia política: o ideal para o qual se direciona nossa noção de progresso deve ser fixo.[7]

À parte do ideal fixo todos os esforços humanos tornam-se infrutíferos,[8] daí a necessidade de um padrão eterno,[9] um ideal permanente[10] que subjaza aos nossos esforços de ordem moral ou política. Considerando que os homens não podem mudar o seu lugar de origem, embora alterem o de destino, cabe ao cristão empreender a eterna revolução, que nada mais é que uma perene tentativa de restaurar o estado de coisas à semelhança com um estágio anterior – o Éden.[11] De nada adianta, portanto, procurar princípios para o progresso a partir da natureza, pois os problemas humanos são problemas morais – é o problema do pecado.[12]

Mas Chesterton abre um parêntese para descartar a ideia de progresso como alteração automática do rumo das coisas, pois esse tipo de progresso não requer pessoas ativas, conquanto os processos históricos por si só evoluam ou avancem para um estado de coisas inexorável, à revelia das ações humanas. Dado, pois, o estado de corrupção das coisas do mundo humano, essa noção de progresso não serve, pois à acomodação própria dos que esperam o desenvolvimento do progresso corresponde uma intensificação do processo de degradação do mundo humano, ou como bem ilustra o autor, “se você abandona uma coisa à própria sorte, você a deixa à mercê de uma torrente de mudanças. Se você abandona um poste branco à própria sorte, ele logo será um poste preto.”[13]

Um segundo ponto em relação a essa noção de progresso é que ela pressupõe ser a melhoria muito simples, posto que natural.[14] Mas a argumentação de Chesterton leva-nos a compreender que o progresso tem que levar-nos a algo além da melhoria simples e automática resultante da ideia de um progresso natural. Tem que ser uma melhoria caracterizada pelo equilíbrio de proporções dos vários elementos envolvidos. Esse tipo de progresso, diferente de um mero arranjo natural que conduza a efeitos bizarros e imprevisíveis, envolve, pois, projeto divino ou humano.[15] Isto só pode ser assim, porque “a proporção não pode ser uma tendência: ou é um acidente ou é um plano.”[16] Esta composição de elementos numa proporção planejada é, pois, a segunda exigência de Chesterton para a sua utopia política, e a felicidade resultante dessa relação “deve ter sido fixada por alguma mente.”[17]

A terceira exigência de Chesterton é que “nós precisamos de vigilância até mesmo na utopia, para não cairmos fora da utopia, como caímos do Éden.”[18] Aqui temos a necessidade da eterna revolução, dada a velocidade com que as coisas humanas se deterioram.  “Uma vigilância quase antinatural é de fato exigida dos cidadãos por causa da horrível rapidez com que as instituições humanas envelhecem.”[19] Agora a eterna revolução exige de nós uma atitude de rebelião contra o conservadorismo que acredita que as coisas continuarão como são e contra tudo o que é novo mas que tende a degradar-se logo em seguida.[20]

A decadência constante do novo, ilustrada por Chesterton pela emergência de sistemas populares que logo se tornam opressores, é uma evidência de sua crença de que o problema reside de fato nos homens, conforme a doutrina do pecado original: “O cristianismo pronunciou-se de novo e disse: ‘eu sempre falei que os homens eram naturalmente reincidentes no erro; que a virtude humana por sua própria natureza tendia a enferrujar e corromper-se.’”[21]

É a partir da aceitação da doutrina do pecado original e da reincidência humana no erro que Chesterton também admite que a solução para os problemas políticos não está na melhoria das condições sociais e econômicas dos homens. “Se condições melhores tornarão os pobres mais aptos a governar-se a si mesmos, por que condições melhores já não deveriam tornar os ricos mais indicados para governá-los?”[22] A partir daí as conclusões do autor são as de “que é provável que os ricos não sejam moralmente dignos de confiança”[23] e que a autoconfiança[24] dos que se consideram capazes de governar os outros é o primeiro sinal de uma atitude anticristã e, portanto, inadequada para esta utopia política. Daí que Chesterton considere positiva a democracia, pois no próprio sistema de votação está implícita “a tentativa de obter a opinião daqueles que seriam modestos demais para manifestar-se.”[25]

A última exigência de Chesterton para a sua utopia política é que “exigiria ser obrigado a cumprir o meu contrato, a levar a sério os meus juramentos e compromissos; eu exigiria que a utopia vingasse a minha honra contra mim mesmo.”[26] Noutras palavras, “eu jamais poderia conceber ou tolerar nenhuma utopia que não me deixasse a liberdade que mais prezo, a liberdade de me obrigar.”[27]

A título de conclusão cumpre ressaltar que as respostas que Chesterton estabelece para o problema político no seu pensamento são também as mesmas respostas que sua investigação em busca da verdade percebe na ortodoxia cristã. Daí que sua concepção de utopia só possa ser relacionada com a Nova Jerusalém, que é também a resposta do cristianismo para a solução final dos problemas políticos da humanidade.

Com este texto também assumo que os graves problemas políticos do mundo que se sucedem ou eternizam na história da humanidade precisam ser assumidos enquanto problemas morais de seres humanos caídos de uma situação de graça e inocência anterior (Gn 1 – 3).

Insistirei, pois, em não desvincular das minhas discussões políticas a sempre evidente e aterrorizadora doutrina do pecado original, antagonizada apenas pela gratificante doutrina da remissão dos pecados em Jesus Cristo e do reino eterno – a Nova Jerusalém.


[1] CHESTERTON, Gilbert Keith. Ortodoxia. 1ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, p. 167.
[2] CHESTERTON, ibidem, p. 168.
[3] Idem, ibidem, p. 169 e 174.
[4] Ibidem, p. 175.
[5] Ibidem, p. 175.
[6] Ibidem, p. 178.
[7] Ibidem, p. 178.
[8] Ibidem, p. 179.
[9] Ibidem, p. 180.
[10] Ibidem, p. 181.
[11] Ibidem, p. 182.
[12] Ibidem, p. 170, 182.
[13] Ibidem, p. 190.
[14] Ibidem, p. 183.
[15] Ibidem, p. 183.
[16] Ibidem, p. 186.
[17] Ibidem, p. 188.
[18] Ibidem, p. 189, 190.
[19] Ibidem, p. 190.
[20] Ibidem, p. 190, 191.
[21] Ibidem, p. 192.
[22] Ibidem, p. 194.
[23] Ibidem, p. 195.
[24] Ibidem, p. 197.
[25] Ibidem, p. 197, 198.
[26] Ibidem, p. 203.
[27] Ibidem, p. 202.

O caminho da bênção é aquele que Deus prepara


Web
A história de Adão e Eva é bastante ilustrativa do fato de que o caminho para a bênção e, em última instância, para a salvação final é Deus quem o prepara.

Por não pensarem assim logo após o incidente com o fruto da árvore de que Deus ordenou que não comessem dela, o primeiro homem e a primeira mulher, conscientes agora do pecado e com vergonha da própria nudez, “coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais” (Gn 3. 7). Para Donald Stamps, “(...) a consciência de estarem nus passou a associar-se ao pecado e à condição caída e depravada da raça humana”,[1] daí que tenham agido no sentido de vestirem-se diante de Deus.

A tentativa de Adão e Eva de proverem uma saída para o problema da consciência acusadora não os deixou totalmente satisfeitos. S. E. McNair observa que “Adão e Eva podiam estar tranquilos com os aventais de folhas que fizeram, enquanto lhes parecia que Deus estava longe, mas em vindo o Senhor, logo se esconderam, sentindo-se, aos olhos divinos, descobertos e envergonhados.”[2]

Ainda segundo este autor, 

“Deus, porém, lhes fez ‘túnicas de peles’, e assim ensinou, por uma figura, a necessidade da morte de uma vítima inocente para que o pecador pudesse ficar coberto e justificado perante Deus. ‘Sem derramamento de sangue não há remissão de pecados’: e em folhas de figueira não há sangue derramado.”[3]

Se, pois, o primeiro homem e a primeira mulher já tentavam alcançar a bênção divina por meios próprios, à revelia da vontade do Senhor, não admira que em nosso tempo muitos assim também procedam. Daí a multiplicidade de denominações religiosas, de liturgias, de interpretações da verdade bíblica. Mas tão antiga quanto a primeira tentativa de prover a própria salvação à parte da vontade de Deus é a verdade de que é Deus quem estabelece o caminho (Jo 14.6).

O profeta Isaías, conhecido em nosso meio pela sua humilhação diante de Deus – “Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos” (Is 6.5) – declarou com júbilo certa vez: “Regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas jóias” (61.10, grifos nossos).[4]

Que este seja, então, o procedimento dos que querem ser abençoados por Deus – submeter-se ao plano da sua divina vontade. Vãos serão nossos esforços, a despeito de qualquer sentimento de humilhação envolvido. Aliás, a verdadeira humilhação ante nossa situação de pecadores (Mt 5.3) é submetermo-nos à vontade do Senhor.


[1] STAMPS, Donald. A Bíbia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 36.
[2] McNAIR, S.E. A Bíblia Explicada. 12. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1993, p. 20.
[3] McNAIR, ibidem, p. 20, grifos do autor.
[4] http://www.bibliaonline.com.br/acf/is/61

domingo, 8 de abril de 2012

O caminho da bênção não é o caminho da trapaça


Esaú e Jacó
A busca pelas bênçãos do Altíssimo deve prescindir dos meios honestos? Abençoaria o Senhor os seus fieis incondicionalmente a despeito das estratégias utilizadas por estes para alcançar o favor divino? Utilizando um exemplo bíblico: a bênção de Jacó foi proporcional aos seus esforços para alcançar a bênção do Altíssimo, não obstante o caráter suplantador de seus métodos? Nestes dias de visíveis “negociações” com o Senhor e completo descaso com os seus princípios faz-se necessária uma discussão sobre qual é o verdadeiro caminho que devemos seguir para sermos abençoados por Deus.

          1. A bênção é segundo a vontade de Deus.
    A primeira coisa que devemos relembrar é que as bênçãos do Senhor não se derramam a nosso bel prazer. Noutras palavras, não dependem apenas de nosso clamor ou de nosso dinheiro para que sejam derramadas sobre nós, sobre nossa família, nossos bens, nossa congregação, nossa vida espiritual. A Escritura é enfática a esse respeito: “E esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 Jo 5.14). Neste sentido, nem todo clamor poderá ser respondido, pois a Deus pode não interessar que você receba algo ou que algo lhe aconteça segundo a sua própria vontade, à revelia da vontade do Altíssimo. Não se trata de injustiça da parte de Deus, considerando que tudo que nos vem da Sua parte “contribui juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm 8.28). 

         2.A bênção é segundo a obediência a Deus.
Uma vez conscientes de que a bênção de Deus é conforme a vontade dEle, não nos custará admitir que os métodos ou estratégias de se buscar a bênção também devem ser de acordo com a Sua palavra. Como bem asseverou o apóstolo João: “... e qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a recebermos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é agradável à sua vista” (1 Jo 3.22). Daí, portanto, que não é necessário que sejamos experts em estratagemas ou maneiras de se buscar a Deus ou “negociar” com ele, sobretudo porque tais métodos vão de encontro à necessidade de se obedecer a Deus, que a todos abençoa liberalmente, conforme a necessidade que o mesmo Senhor conhece muito bem (cf. Tg 1.5).

         3. Jacó, o suplantador.
Não obstante as conclusões acima a serem admitidas, muitos cristãos ainda creem que o caminho da bênção deve ser trilhado conforme métodos desonestos de negociação. Aliás, com Deus sequer há negociação – ou nos submetemos à sua vontade (Ele é justo!) ou não somos abençoados. Quantos talvez não celebram os métodos de Jacó pela suposta eficácia obtida através deles! É de se questionar essa eficácia por algumas razões:

3.1   A desonestidade de Jacó fez parte da sua vida até o momento da luta com o Anjo.
É preciso situarmos as práticas desonestas de Jacó, no que diz respeito à sua busca das bênçãos de Deus – a primogenitura e a ampliação do seu rebanho – no período anterior à sua verdadeira conversão, que teria ocorrido somente muito tempo mais tarde, quando foi ao encontro do seu irmão Esaú (cf. Gn 32.22-32). Jacó o enganara ao se apossar da primogenitura utilizando de chantagem (Gn 25.24-34). Faz-se necessário enfatizar que Deus não condenou a atitude de Jacó em valorizar a primogenitura, mas não podemos, por outro lado, acreditar que seu sucesso espiritual decorreu de suas peripécias contra sua própria família. A bênção da primogenitura era algo que já pertencia a Jacó na presciência divina (25.23) e não é correto acreditar que somente buscando-a desonestamente ele tomaria posse dela. Se a conquista da bênção demandaria atitude, não seria, deve-se acreditar, através de atitudes mentirosas e fraudulentas.
A luta com o Anjo no vau de Jaboque revela-nos duas maravilhas vivenciadas por Jacó: (1) Um novo nome lhe foi dado – Jacó, que significava suplantador, foi substituído por Israel, aquele que luta com Deus (32.28; Ap 2.17). (2) O próprio Jacó testifica de sua experiência transformadora ao dizer: “Tenho visto a Deus face a face e a minha alma foi salva” (v. 30).

3.2   O contexto geral das Escrituras não favorece a ideia de que a bênção deve ser buscada de modo alheio à vontade de Deus.
Devemos considerar que a fraude, o engano, a trapaça, vão de encontro ao mandamento do amor ao próximo. Mesmo que o desejo pela bênção seja intenso deve-se evitar a fraude contra o irmão. O Senhor se expressou através do salmista Davi, dizendo: “O que usa de engano não ficará dentro das minhas portas; o que profere mentiras não estará firme perante os meus olhos” (Sl 101.7, grifos nossos). A parte dos mentirosos será “no lago que arde com fogo e enxofre” (Ap. 21.8).
Lamentável que num tempo em que os valores mais buscados são os materiais, a fama, o sucesso, as riquezas, o poder, mesmo os cristãos não avaliam suas atitudes ao perseguirem determinados objetivos. A fraude ocorre contra o irmão, o vizinho, o colega e o próprio Deus (que não se deixa escarnecer [Gl 6.7]). Lideranças políticas cristãs ignoram a lei do céu e a dos homens ao generalizarem a mentira, a fraude, o engano e a trapaça em sua peregrinação rumo ao poder terreno – e eclesiástico? – , muitas vezes atribuindo a Deus o sucesso de suas conquistas, realizando cultos de louvor e gratidão por algo que nunca teve a participação do Senhor.

         4. Pedir, buscar, bater (Mt. 7.7 e 8).
As bênçãos de Deus precisam ser valorizadas e perseguidas. O sucesso de Jacó precisa ser avaliado levando em conta não suas fraudes, mas o modo intenso como valorizava a bênção da primogenitura e sua disposição em lutar com Deus pelas bênçãos que buscava (Gn 25.31; 32.28).

O Novo Testamento nos oferece, portanto, a receita para sermos abençoados: pedir, buscar, bater. Segundo a Sua vontade, Deus nos ouvirá, pois a oração de um justo pode muito em seus efeitos (Tg. 16). Se algo que estamos perseguindo há muito tempo ainda não nos foi entregue, isso não é sinal de que precisamos inovar nos métodos de busca. Basta lembrarmos que o Senhor sempre quer o nosso bem.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Personagens bíblicos – Noé


Web
Noé, cujo nome significa “repouso”,[1] foi o único sobrevivente, juntamente com sua família, do dilúvio de águas que se abateu sobre a terra (Gn 6 – 10). Até o dilúvio tinha três filhos – Sem, Cam e Jafé – , somando, com a mãe e as esposas destes, oito almas na arca, sobreviventes.

Em seu tempo o pecado na raça humana havia chegado a níveis que Deus não mais pôde suportar, daí a determinação em destruir todos os homens (6.1-12). Um Deus santo não convive com o pecado e “como pode o profano permanecer diante do santo?”[2].

Noé, entretanto, foi uma exceção a esse mundo pecaminoso (6.8,9). Como Enoque, andava com Deus, o que quer dizer que fazia a vontade do Senhor e separava-se do mal. Deus, entretanto, ainda provaria a fé desse homem justo ordenando-lhe que fizesse uma grande arca para que fosse salvo de algo que ainda não se tinha visto – chuvas[3] (Hb 11.7).

Pela fé, como bem salientou o escritor aos Hebreus, Noé fez a arca, salvando-se da condenação do mundo, a despeito da incredulidade dos seus semelhantes, que obviamente zombavam dele e do seu projeto.

Mas Noé não apenas fez a arca. Pedro o apresenta como o “pregoeiro da justiça” (2 Pe 2.5), o que indica que enquanto construía o seu projeto anunciava aos seus semelhantes o juízo que se aproximava; não se converteram, porém. Apenas sua família o acompanhou. Mais tarde, numa outra época de intensa impiedade entre o povo de Deus, mesmo as orações do justo Noé se fariam inúteis, dada a gravidade a que o pecado chegaria, ocasionando a justa ira de Deus, inexoravelmente (cf. Ez 14.14,20).

A arca de madeira que Noé construiu tinha as seguintes dimensões: 130m de comprimento por 22m de largura por 13 de altura (Gn 6.15).[4] Devia comportar um casal de todas as espécies animais e ainda Noé com a sua família e sobreviver a 40 dias e 40 noites de chuva intensa, o que submeteu a terra a 150 dias de inundação, ficando o patriarca na arca no decurso de um ano inteiro (Gn 7). Para Stamps, “Hebreus 11.7 assinala a arca como um tipo de Cristo, aquele que é o meio de salvação do crente, para livrá-lo do juízo e da morte (1 Pe 3.20,21).”[5]

Uma vez saídos da arca, Noé e sua família ofereceram sacrifícios a Deus. O Senhor respondeu-lhe afirmando sua promessa de nunca mais destruir o mundo pelas águas, ratificando-a com a figura do arco-íris (8.20-22; 9.8-17).

O grande patriarca ainda teria a sua história de fé e separação do mundo maculada por um incidente de embriaguez que resultou na maldição de Canaã, seu neto (9.20-29).

Seus filhos, Sem, Cam e Jafé, deram origem aos povos que habitaram as regiões da África Europa e Ásia mencionados na narrativa bíblica.


[1] Cf. Donald STAMPS. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 41.
[2] Cheryl B. JOHNS; Vardarman W. WHITE. A Ética de Ser: Caráter, Comunidade, Praxis. In: Michael D. PALMER (ed.). Panorama do Pensamento Cristão. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, p. 300.
[3] Alguém pode sugerir que Gn 2.6 refira-se à chuva.
[4] Texto da Biblia das Descobertas, na nova tradução na linguagem de hoje. Barueri: São Paulo, Sociedade Bíblica do Brasil.
[5] Donald STAMPS. Idem, p. 42.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Personagens bíblicos – Enoque


Web
Enoque é apresentado pela Escritura como “o sétimo depois de Adão”[1] (Jd v.14), e a ênfase que se dá ao seu nome na genealogia do capítulo 5 de Gênesis, posto que breve, deve-se ao íntimo relacionamento que Enoque mantinha com Deus. De Adão diz-se que Deus o visitava na viração do dia (Gn 3.8); de Abel, que sacrificava a Deus o melhor do rebanho (4.4); de Enos, filho de Sete, que foi o primeiro a cultuar a Deus (4.26), mas Enoque é o primeiro de quem se diz que andou com Deus (5.22,24). Tamanha era sua santidade num mundo iníquo a ponto de Deus o trasladar, para não ver a morte (v.24; Hb 11.5).

De acordo com Donald Stamps, o andar com Deus significa que Enoque “vivia pela fé em Deus, confiava na sua palavra e promessas (Hb 11.5,6), procurava de toda maneira viver uma vida santa (cf. 1 Jo 1.5-7) e andava nos caminhos de Deus (cf. Am 3.3), mantendo-se firme contra a impiedade da sua geração (Jd 14,15).”[2]

Da epístola de Judas aprendemos que Enoque viveu numa época de intensa impiedade, contexto que não o impediu de andar nos caminhos do Senhor e pregar contra a injustiça e impiedade do seu tempo (Jd 14,15). Sua conduta nos alerta para a necessidade de mantermos também uma atitude de separação deste mundo e pregação do evangelho; nossa trasladação, tal como a de Enoque, está condicionada ao nosso “andar com Deus” num mundo decaído (Ap 3.10).

S.E. McNair, aliás, encontra fortes motivos para ver na trasladação de Enoque, antes do dilúvio, “um tipo dos santos que hão de ser trasladados antes dos julgamentos apocalípticos.”[3] Assim como esse profeta da antiguidade foi trasladado antes do dilúvio, primeira forma de juízo de Deus sobre os homens ímpios, a igreja do Senhor também será arrebatada antes do Dia de juízo que virá para tentar todos os que habitam sobre a Terra (I Ts 4.13-17; Ap 3.10). Uma curiosidade é que o filho de Enoque, Metusalém, o homem mais velho da bíblia, continha no próprio nome a profecia do dilúvio, segundo McNair. Seu nome significa: “quando ele for removido, virá”. No mesmo ano em que Metusalém morreu veio o dilúvio de águas sobre a Terra.[4]

Enoque deixou-nos exemplo de que pela fé podemos nos resguardar de um mundo corrupto e iníquo, alcançando testemunho de que agradamos a Deus (Hb 11.5), pregar o Evangelho (Jd 14) e estar preparados para a iminente vinda de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (I Ts 5.23).


[1] Segundo Donald STAMPS, o termo “gerou”, conforme consta dessa genealogia, não quer dizer apenas genitor, mas também progenitor. Neste sentido, Enoque é o sétimo na genealogia depois de Adão, mas pode ser que alguns genitores tenham sido suprimidos da mesma. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 40.
[2] Donald STAMPS. Idem, ibidem.
[3] S. E. McNair. A Bíblia Explicada. 12ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1993, p. 22.
[4] S. E. McNair, idem, ibidem.