domingo, 31 de outubro de 2010

Cristãos em Tudo

Fonte: Web
Estas últimas eleições nos propiciaram uma reflexão cristã ainda não experimentada em situações anteriores.

O fato de o segundo turno das eleições presidenciais nos apresentar dois candidatos praticamente semelhantes em muitos aspectos - sobretudo o econômico, onde as diferenças entre os modelos apresentados por parte de cada candidato são tão pequenas a ponto se tornarem imperceptíveis - terminou por direcionar o foco da escolha do candidato ideal para aspectos outrora negligenciados no processo político.

No final das contas os cristãos começaram a atentar para questões do tipo: "Esse candidato contradiz, em seu modo de governar, algum princípio cristão?"

Uma sociedade ateísta como a em que a nossa está se tornando considerará questões como a acima descrita como algo irrelevante no processo político. Muitos brasileiros disseram que a campanha estava fugindo das questões essenciais e esbarrando em questões insignificantes porque religiosas.

Sabemos, entretanto, que, em que pesem as motivações apaixonadas expressas por muitos eleitores que se beneficiarão de alguma forma com os resultados das eleições, no final das contas há grandes similaridades entre os dois candidatos. Ambos representam praticamente o mesmo pensamento econômico neoliberal, tornando-se qualquer deles mero continuador do modelo atual, que beneficia mais quem já é abastado e continua a abrandar a situações dos menos favorecidos com medidas tão paliativas quanto desumanizadoras.

Daí que as diferenças reais entre eles, caso existam, tenham de ser percebidas em outros aspectos ou características dos candidatos e de um eventual governo de cada um.

Foi o que houve, por exemplo, com a questão do aborto e da anunciada desconstrução da heteronormatividade. E nesse ponto sejamos sóbrios: nenhum dos candidatos é preferível ao outro, na medida em que nenhum dispõe de uma trajetória cristã confiável a ponto de se tornar agradável aos cristãos.

De qualquer modo a situação serviu para propiciar aos cristãos brasileiros uma reflexão sobre o que se esperar de eleitores cristãos, como também o que se deve esperar de políticos eleitos por cristãos.

A maioria de nós, cristãos, tem relegado a vida cristã para o interior dos templos e, na melhor das hipóteses, para o interior dos lares, considerando tudo o mais que acontece fora desses dois contextos imediatos como campos que precisam estar fora de nossa atuação enquanto cristãos.

Para Nancy Pearcy isso decorre do fato de não termos desenvolvido uma cosmovisão cristã. Nosso cristianismo, segundo a autora, "é restrito a uma área especializada de crença religiosa e devoção pessoal."*

Como consequência dessa visão deficiente da fé cristã temos abdicado de uma postura correta não só nos processos eleitorais, mas em muitos âmbitos de nossa vida.

Se a esse processo eleitoral vivenciado ultimamente devemos o mérito de suscitar essa reflexão, por outro lado, assistimos a uma baixaria, muitas vezes, no processo de politização dos crentes. É que a maioria quer participar das discussões ou da correria eleitoral nos mesmos moldes em que a maioria das pessoas o faz, de forma interesseira, corrupta e inconsequente.

Tudo indica que o nosso processo de reflexão apenas começou. Precisa amadurecer com muita responsabilidade e senso bíblico.

Mas já é um bom começo.

Francisco Sulo
Esperantina, 31 de outubro de 2010.

*PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta: Libertando o Cristianismo de seu Cativeiro Cultural. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 21.

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