sábado, 2 de julho de 2011

Podemos conhecer Deus e a sua vontade?

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Certa feita fui surpreendido no início de um debate com outro cristão quando este afirmava que Deus seria algo totalmente incognoscível, assim como a sua palavra escrita, a Bíblia, exceto para alguns poucos iluminados, que teriam dividido a existência na Terra na condição de porta-vozes da verdade divina. Na verdade seu argumento parecia fazer parte de uma empreitada com o sentido de emudecer qualquer argumento meu oriundo de minha experiência cristã ou do conhecimento bíblico adquirido a partir das preleções na Igreja e das leituras particulares; sou tentado, entretanto, a reconhecer que realmente meu interlocutor partilhava da ideia de que os cristãos comuns são incapazes de saberem algo sobre Deus e o seu propósito para o ser humano e o cosmos em geral.

Até que ponto, entretanto, essa não seria uma ideia presente na mentalidade de muitos cristãos? Ou, seria Deus e a Sua palavra realmente incompreensíveis?

Essa ideia não faria parte apenas do ideário de muitos cristãos, na medida em que podemos presenciar vários de casos de descrentes que também apresentam certo ceticismo no que diz respeito à Deus e a Sua palavra. Alguns dizem que Deus é muito complexo e que a Bíblia, caso fosse realmente a palavra de Deus, não seria compreendida por nós, pessoas comuns, a despeito de nossa fé nEle.

Mas o que a Bíblia tem a nos dizer sobre essa problemática? Teríamos, partir da Escritura, argumentos que justificassem a verdade daquilo que compreendemos sobre Deus? Vejamos. 

Argumento em favor da incognoscibilidade de Deus[1] 

Um dos argumentos utilizados pelo meu interlocutor, por ocasião do frustrado debate, para justificar que só alguns iluminados poderiam conhecer algo sobre Deus e o seu propósito é o seguinte: “Certamente o Senhor JEOVÁ não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3.7).

Há algo sobre este texto que precisa ser melhor explicitado, pois ele não justifica que Deus e o seu propósito só sejam compreendidos pelos seletos iluminados, mas, por outro lado, que Deus não faz nada que não seja anunciado primeiramente. Noutras palavras, qualquer evento realizado por Deus teria um anúncio prévio, como foi o caso do dilúvio, do cativeiro babilônico e mesmo da vinda do Messias.

Obviamente que o Senhor fará conhecida a sua vontade primeiramente diante dos profetas, como ocorria no AT, ou do anjo da igreja, no NT. Mas não é disso que trata este texto. O objetivo aqui é discorrer não sobre quem está na condição de primeiro receber a revelação do conhecimento de Deus e de sua vontade, mas da abrangência da revelação de Deus aos homens, isto é, se todos seríamos ou não conhecedores potenciais da vontade do Senhor. 

Argumentos em favor da cognoscibilidade de Deus 
O salmista Davi expressa nos seus salmos uma das mais maravilhosas evidências de que Deus é um Ser que se revela através da criação do universo mesmo. Diz o salmista: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19.1).

O apóstolo Paulo é do mesmo parecer a ponto de até afirmar que o conhecimento de Deus visível na criação é razão suficiente para que ninguém seja tomado por inocente por ocasião do juízo. Diz o apóstolo:

“porquanto o que de Deus se pode conhecer neles [nos homens injustos] se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1.19 e 20).

Até mesmo noções morais básicas presentes em todos os homens denunciariam o conhecimento de Deus e sua vontade manifestada a todos:

“Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmo são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (2.14 e 15).

Paulo ainda dirá no Areópago, na presença de filósofos epicureus e estóicos, e antes de lhes anunciar a palavra do juízo vindouro de Deus, que o Senhor “não está longe de cada um de nós” (At 17.27).

Obviamente que esses textos não trazem uma definição explícita do que seria a revelação de Deus, na medida em que ela ocorre de maneiras variadas, conforme o propósito mesmo da vontade de Deus. Daí que os teólogos tenham dividido a revelação de Deus em geral e especial. Os exemplos acima fariam parte, então, daquilo que se pode chamar de revelação geral de Deus, pois ocorrem de forma natural, o que não invalida sua eficiência e poder de acusação por ocasião do Dia do Juízo (Rm 2.16).

A revelação especial consistiria na manifestação de Deus e de sua vontade através da aparição aos profetas, da inspiração dos escritores sagrados e do testemunho individual na vida de cada crente que mantém uma vida de comunhão com o Senhor.

Independentemente do fato de a revelação de Deus dar-se de forma natural ou especial, a verdade é que o crente em Cristo não estaria impedido de gozar da felicidade deste conhecimento.

Neste sentido, o cristão não seria uma espécie de fiel que esperaria profetas extraordinários aparecerem esporadicamente na história da Igreja expressando a revelação de Deus, recebida de forma especial e restrita. Por outro lado, a Escritura nos convence da necessidade de conhecermos a Deus e prosseguirmos nessa empreitada (Os 6.3).

Ademais, aos crentes verdadeiramente espirituais é dada “a mente de Cristo” (1 Co 2.16); esse mesmo crente é capaz de compreender as coisas do Espírito de Deus, que se discernem espiritualmente, pois “o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido” (v. 15). 

Conclusão 
Deus, portanto, e a título de encerramento, é um Ser de revelação. De nada adiantaria a existência da Escritura se não pudesse ser compreendida, embora essa compreensão esteja sujeita a uma espiritualidade sadia diante de Deus.

De qualquer modo há conhecimento de Deus visível a todos de modo natural, ainda que limitado, e conhecimento mais profundo e espiritual disponível a partir de uma vida dedicada a Cristo, “em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.3).

Nem tudo, entretanto, será conhecido por nós (Dt 29.29), nem toda experiência espiritual é uma experiência de compreensão da verdade de Deus e alguns terão maior parcela desse conhecimento verdadeiro, dada a sua posição e responsabilidade no Reino de Deus. Mas em nenhum momento aceitemos a ideia que Deus ou a sua vontade não podem ser conhecidos.



[1] Tratamos aqui não da incognoscibilidade absoluta de Deus, mas de sua limitação. Isto é, para alguns, Deus só seria conhecido de alguns seletos iluminados.

4 comentários:

Ev. Josué disse...

Vemos bem a sua posiçao de fe , conhecermos a Deus , e evidente que o Homen natural nao conhece a Deus muinto menos a sua vontade, p quem crer nao sera confudido Ipe;2:6-7quando nos choramos ou nos machucamos setimos dor somos sencivel mas muitos quando se trata de Deus sao incenciveis , temos que ter percepiçao espiritual p entender qual seja a boa e agradavel vontade de Deus , não e so os iluminados que tem esta percepçao , veja Deus não mudou é o mesmo ,e o ser umano0 tem as mesmas sencibilidade q antes , quem trabalha com matematica e o prof, faz uma peregunta, ele ja sabe a resposta assim eu comparo esse autor desse comentario em estudo , e quem trabelha com sa coisas de Deus não e diferente mas sedo ou mas tarde ele sabe qual e a vontade de Deus,.

Gutemberg Pimentel... disse...

Avaliação do artigo:

“Podemos Conhecer Deus e a Sua Vontade?”

Partindo para o pressuposto, referente ao:

“Conhecimento incognoscível de Deus, de sua palavra escrita, a Bíblia, e a exceção para alguns poucos iluminados, na condição de porta-vozes da verdade divina aos que habitam a terra”. Acredito que o tal “cristão” que assim se expressou, tem características semelhantes à de alguém que faz parte do Mormonismo em se utilizar como pretexto o enunciado profético de Am. 3:7: “... Seus servos os profetas”. Para afirmarem por esse versículo bíblico, que Deus, em todas as épocas, possui um profeta na terra, por quem revela suas instruções, por isso acreditam que o presidente desse movimento (Joseph Smith, 1805 – 1844), é o profeta de Deus para os dias atuais.Ou o tal “cristão”, deva ser defensor do movimento Tabernáculo da Fé, oriundo de seu fundador William Marrion Branham (1965), identificado como “o profeta da Era” e como “aquele que cumpriu Ap.10:7”. Pois, o suposto mensageiro do Senhor foi quem profetizou que o fim do mundo ocorreria em 1977; sete anos depois de meu nascimento. E quem viveu viu, quem na verdade se acabou e chegou ao fim. Agora, retrocedendo um pouco de volta para Amós 3:7 de que: “Certamente o Senhor JEOVÁ não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3:7). Ao enfocarmos o contexto dos dias de Amós, a mensagem, indica que Deus estava exortando os israelitas por sua desobediência. A passagem em destaque assegura que Deus havia avisado previamente que o julgamento seguiria à desobediência. Contudo, os israelitas ignoraram os avisos dos profetas quando lemos Am. 2:12 - “Mas vós aos nazireus destes vinho a beber, e aos profetas ordenastes, dizendo: Não profetizareis”. Então, no que confere ao propósito de Deus no cenário do Antigo Testamento, o Espírito Santo não fora derramado sobre toda a carne para profetizarem, mais de um modo especifico e de forma pessoal a quem fosse levantado por Deus como profeta. E o teste bíblico para verificar a veracidade de um profeta ainda continua o mesmo conforme mencionado em Dt. 18:20, 21. Caríssimo amanuense, quando escreveste dizendo: “Sou tentado, entretanto, a reconhecer que realmente meu interlocutor partilhava da idéia de que “os cristãos comuns” são incapazes de saberem algo sobre Deus e o seu propósito para o ser humano e o cosmo em geral”. Quero trazer-lhe à memória, o que dissera Jesus acerca dos “cristãos comuns” em Mt. 11:25 – “... Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos”. O próprio Amós era um homem comum, um simples boiadeiro e cultivador de sicômoro, cf. Am. 7:14,15. A soberba daqueles que se consideram sábios aos seus próprios olhos os impede de conhecer aquilo que os humildes, comuns e poucos esclarecidos, por revelação, conhecem: Deus! Por conseguinte, embora sendo insondável, o homem nada, absolutamente, poderia saber a respeito de Deus, se Ele não nos revelasse o necessário, em Sua Palavra. Buscando esta Palavra, o homem achará o que de Deus se pode saber com segurança. Porque “a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” – (Pv.4:18). Contudo, em se tratando do intitulado “cristão” referendado por ti, vale salientar, que há uma palavra apostólica que repercute ecoando aos ouvidos desses que: “aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da Verdade” – 2Tm.3:7. Mas, o toque do relógio da Palavra está dizendo ao então “cristão” ou a quem negligenciou a comunhão com Deus: ... “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará” – Ef.5:14. Deus é conhecido a quem possa se interessar em tomar iniciativa, conforme a medida da fé de cada um, na pessoa de Jesus Cristo.

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Referências:
1. BÍBLIA Apologética de Estudo (ACF) – São Paulo: Instituto Cristão de Pesquisas,
2000.
2. SHEDD, Russell P. Bíblia Vida Nova (ARA) – São Paulo: Vida Nova, 1995.

Francisco Sulo disse...

Pois é, Gutemberg,

Não pude aceitar a ideia de meu interlocutor e esse texto que escrevi é uma forma de eu expressar como vejo a questão.

Infelizmente há muitos que veem assim a verdade sobre Deus, como algo inalcançável.

Mas como você bem referendou no seu comentário, seria um absurdo ignorar que Deus é um Ser que se revela.

Obrigado pela participação.

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Francisco Sulo disse...

Ev. Josué,

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