quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Personagens bíblicos – Enoque


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Enoque é apresentado pela Escritura como “o sétimo depois de Adão”[1] (Jd v.14), e a ênfase que se dá ao seu nome na genealogia do capítulo 5 de Gênesis, posto que breve, deve-se ao íntimo relacionamento que Enoque mantinha com Deus. De Adão diz-se que Deus o visitava na viração do dia (Gn 3.8); de Abel, que sacrificava a Deus o melhor do rebanho (4.4); de Enos, filho de Sete, que foi o primeiro a cultuar a Deus (4.26), mas Enoque é o primeiro de quem se diz que andou com Deus (5.22,24). Tamanha era sua santidade num mundo iníquo a ponto de Deus o trasladar, para não ver a morte (v.24; Hb 11.5).

De acordo com Donald Stamps, o andar com Deus significa que Enoque “vivia pela fé em Deus, confiava na sua palavra e promessas (Hb 11.5,6), procurava de toda maneira viver uma vida santa (cf. 1 Jo 1.5-7) e andava nos caminhos de Deus (cf. Am 3.3), mantendo-se firme contra a impiedade da sua geração (Jd 14,15).”[2]

Da epístola de Judas aprendemos que Enoque viveu numa época de intensa impiedade, contexto que não o impediu de andar nos caminhos do Senhor e pregar contra a injustiça e impiedade do seu tempo (Jd 14,15). Sua conduta nos alerta para a necessidade de mantermos também uma atitude de separação deste mundo e pregação do evangelho; nossa trasladação, tal como a de Enoque, está condicionada ao nosso “andar com Deus” num mundo decaído (Ap 3.10).

S.E. McNair, aliás, encontra fortes motivos para ver na trasladação de Enoque, antes do dilúvio, “um tipo dos santos que hão de ser trasladados antes dos julgamentos apocalípticos.”[3] Assim como esse profeta da antiguidade foi trasladado antes do dilúvio, primeira forma de juízo de Deus sobre os homens ímpios, a igreja do Senhor também será arrebatada antes do Dia de juízo que virá para tentar todos os que habitam sobre a Terra (I Ts 4.13-17; Ap 3.10). Uma curiosidade é que o filho de Enoque, Metusalém, o homem mais velho da bíblia, continha no próprio nome a profecia do dilúvio, segundo McNair. Seu nome significa: “quando ele for removido, virá”. No mesmo ano em que Metusalém morreu veio o dilúvio de águas sobre a Terra.[4]

Enoque deixou-nos exemplo de que pela fé podemos nos resguardar de um mundo corrupto e iníquo, alcançando testemunho de que agradamos a Deus (Hb 11.5), pregar o Evangelho (Jd 14) e estar preparados para a iminente vinda de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (I Ts 5.23).


[1] Segundo Donald STAMPS, o termo “gerou”, conforme consta dessa genealogia, não quer dizer apenas genitor, mas também progenitor. Neste sentido, Enoque é o sétimo na genealogia depois de Adão, mas pode ser que alguns genitores tenham sido suprimidos da mesma. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 40.
[2] Donald STAMPS. Idem, ibidem.
[3] S. E. McNair. A Bíblia Explicada. 12ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1993, p. 22.
[4] S. E. McNair, idem, ibidem.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Personagens bíblicos – Abel


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Abel, cujo nome significa vaidade[1], é o segundo filho de Adão e Eva mencionado por nome na bíblia.[2] Sua menção na Escritura parece estar diretamente relacionada com a necessidade de se fazer referência ao primeiro homicídio, sofrido por ele, e ao tipo de sacrifício que agrada a Deus.

Era pastor de ovelhas e seu irmão Caim, mais velho, lavrador da terra (Gn 4.2). Abel ofertava dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura. Deus atentava para sua oferta porque Abel era justo e suas obras, justas, enquanto as de Caim eram más (1 Jo 3.12). Em razão de Deus não atentar para a oferta de Caim este matou a seu irmão Abel, cujo sangue clamou a Deus desde a terra, dada a condição de justiça em que Abel vivia. De acordo com Donald Stamps, “Deus, no decurso de todas as eras, observa atentamente todos os que sofrem por viver em retidão diante dele”[3], não ignorando em tempo algum o sangue dos justos (cf. Ap 7.13-17).

A história de Abel, posto que trágica a despeito de sua condição de justo, nos revela que Deus quer o melhor de nossa parte quando lhe ofertarmos algo e que mesmo coisas ruins podem suceder aos que servem ao Senhor com justiça e retidão. Deus, entretanto, jamais ignora a justiça dos seus santos (Gn 4.10), e, num futuro próximo, os que hoje sofrem por causa da justiça serão levados para diante do seu trono, onde serão servidos de dia e de noite (Ap 7.13-17).


[1] Cf. Donald STAMPS. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD: 1995, p. 38.
[2] Adão teve “filhos e filhas” (Gn 5.4). Enquanto em Gn 4 temos referência apenas a Caim, Abel e Sete, no capítulo 5 a menção é restrita apenas a Sete, o que nos concede supor que a menção de determinados personagens na Escritura está restrita à importância que estes têm na história ou evento descrito à posteridade e a importância deste evento com o plano da salvação.
[3] STAMPS, idem, ibidem.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A irracionalidade se aplica à Deus e a Sua Criação?


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Na última postagem discorri sobre um tema que foi suscitado a partir de uma tentativa de debate entre mim e um interlocutor, o qual dava mostras de ceticismo ante a possibilidade de todos os cristãos – e mesmo os ímpios, de alguma forma – terem conhecimento de Deus e de sua vontade.

Um outro ponto também apresentado por meu interlocutor no debate foi a ideia de que razão e fé são totalmente incompatíveis; noutras palavras, que as coisas de Deus – e o próprio Criador – seriam caracterizadas pelos aspectos da fé, enquanto crença cega em algo, enquanto as coisas humanas caracterizar-se-iam pelo aspecto racional, de maneira que teríamos um mundo onde haveria alegações de racionalidade – o humano – e um mundo ao qual a racionalidade não se aplicaria ou que seria até mesmo antagônico à razão.

Mas seriam razão e fé totalmente incompatíveis? Será Deus um Ser irracional? Afirmei ao meu interlocutor que não, ainda que na contramão do que disse um dos mais influentes pais da Igreja Cristã, Tertuliano, a quem se atribui o seguinte: “Creio porque absurdo.”[1]

Temos de convir, entretanto, que no imaginário cristão popular e até mesmo em setores mais elevados da hierarquia eclesiástica predomina uma certa postura que opõe fé e razão, o que de alguma maneira tem contribuído para relegar a fé ao campo do absurdo, da mera crença irracional em verdades metafísicas, ao mesmo tempo em que atribui, embora não intencionalmente, ao conhecimento científico o status de verdadeiro, porque racional ou empírico. Mas seriam as coisas realmente assim?

R. C. Sproul considera que um dos aspectos negativos do trabalho da apologética hoje estaria relacionado ao abandono de determinados princípios do entendimento que são prescindidos não apenas pelo ateísmo, mas até mesmo por setores internos à igreja. O abandono desses princípios seria algo totalmente nocivo à igreja, pois terminaria por fazer coro à acusação ateísta de que o Evangelho é algo irracional e que precisa, portanto, estar restrito ao campo da crença, dos valores, não participando daquilo que é racional.

Na contramão disso, Sproul afirma que o cristianismo é racional em sua essência e que “seguir o absurdo é envolver-se não com a fé, mas com a credulidade”.[2] O autor, depois de condenar o racionalismo, mas não a racionalidade, ainda diz que “apesar da divina revelação nos levar além dos limites da especulação racional ela não fica abaixo da inteligibilidade racional”.[3]

Norman Geisler, importante apologista contemporâneo, também é enfático ao afirmar que o absurdo não é uma marca distintiva do cristianismo. Segundo Geisler, “a Bíblia usa o termo ‘mistério’ para coisas que estão além da nossa razão, mas não contra ela”,[4] e que a única vez em que o termo antítese é mencionado pela Escritura é exatamente no sentido de que o evitemos (1 Tm 6.20).[5] O autor ainda nos sugere que termos que se relacionem com contradições lógicas, como paradoxo, antinomias ou antíteses, “deveriam ser evitados pelos cristãos quando falassem dos mistérios da fé como a Trindade, a encarnação e a relação entre a soberania e o livre-arbítrio.”[6]

A opinião dessas autoridades em estudos bíblicos parece sugerir-nos que não seria sábia uma atitude de aversão à racionalidade, como se essa esta fosse nociva à defesa da fé.

Ao meu interlocutor eu disse que não conseguia aceitar a ideia de um Deus irracional ou alheio à irracionalidade. Disse-lhe que não podia aceitar ao mesmo tempo em que Deus é e não é, o que seria uma violação ao princípio da não-contradição. E é exatamente o que ocorre quando louvamos o suposto caráter irracional da fé ou da existência de Deus, isto é, ao preterir a racionalidade em favor da irracionalidade estabelecemos absurdos do tipo: “Deus é e não é ao mesmo tempo” ou “Vamos ao céu e ao inferno ao mesmo tempo.”

Para Sproul é essencial que não negociemos a perda de determinados princípios do entendimento na nossa discussão sobre a fé cristã, pois asseguram um conhecimento de Deus e de sua vontade em razão exatamente do caráter racional existente em Deus e na sua criação. Esses princípios seriam: (1) a lei da não-contradição, (2) o princípio da causalidade, (3) a básica (embora não perfeita) confiabilidade da percepção dos sentidos e (4) o uso analógico da linguagem.[7] Para o autor, “rejeitar qualquer um desses princípios pode ser fatal para a argumentação do crente.”[8]

Não parece sábio, pois, prescindir do caráter racional da fé e das coisas relacionadas a Deus e ao cosmos em geral, na medida em que essa mesma racionalidade revela nuances da verdade de Deus aos homens sem a possibilidade de confusão absoluta. Deus não é Deus de confusão (1 Co 14.33). Logo, o absurdo não seria uma de suas características.

Obviamente que o fato de a racionalidade ser aplicada a Deus e a sua criação não significa que O possamos compreender perfeitamente, dada as consequências da queda para o entendimento humano, as limitações estabelecidas pelo próprio Deus sobre o que podemos conhecer (Dt 29.29) e o fato de que muitos dos Seus mistérios estão além da nossa compreensão, o que não os torna por isso mesmo irracionais.

Mas isso é matéria para discussões posteriores.


[1] Philotheus BOEHNER e Etienn GILSON acreditam, entretanto, que a atribuição dessa máxima a Tertuliano não passa de interpretações equivocadas sobre o autor da Igreja Latina, e que “não se pode afirmar... que admita [Tertuliano] uma contradição entre a fé e a razão, se bem que as suas expressões pareçam insinuá-la” (História da Filosofia Cristã. 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 133).
[2] R. C. SPROUL. Defendendo sua Fé – uma introdução à apologética. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 7 e 8.
[3] SPROUL, idem, ibidem.
[4] Norman GEISLER. Eleitos, mas Livres – uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre arbítrio. São Paulo: Vida, 2001, p. 50.
[5] GEISLER, idem, ibidem.
[6] Idem, ibidem.
[7] Consultar a obra de Sproul já citada neste texto.
[8] SPROUL, idem, ibidem, p. 26.

sábado, 2 de julho de 2011

Podemos conhecer Deus e a sua vontade?

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Certa feita fui surpreendido no início de um debate com outro cristão quando este afirmava que Deus seria algo totalmente incognoscível, assim como a sua palavra escrita, a Bíblia, exceto para alguns poucos iluminados, que teriam dividido a existência na Terra na condição de porta-vozes da verdade divina. Na verdade seu argumento parecia fazer parte de uma empreitada com o sentido de emudecer qualquer argumento meu oriundo de minha experiência cristã ou do conhecimento bíblico adquirido a partir das preleções na Igreja e das leituras particulares; sou tentado, entretanto, a reconhecer que realmente meu interlocutor partilhava da ideia de que os cristãos comuns são incapazes de saberem algo sobre Deus e o seu propósito para o ser humano e o cosmos em geral.

Até que ponto, entretanto, essa não seria uma ideia presente na mentalidade de muitos cristãos? Ou, seria Deus e a Sua palavra realmente incompreensíveis?

Essa ideia não faria parte apenas do ideário de muitos cristãos, na medida em que podemos presenciar vários de casos de descrentes que também apresentam certo ceticismo no que diz respeito à Deus e a Sua palavra. Alguns dizem que Deus é muito complexo e que a Bíblia, caso fosse realmente a palavra de Deus, não seria compreendida por nós, pessoas comuns, a despeito de nossa fé nEle.

Mas o que a Bíblia tem a nos dizer sobre essa problemática? Teríamos, partir da Escritura, argumentos que justificassem a verdade daquilo que compreendemos sobre Deus? Vejamos. 

Argumento em favor da incognoscibilidade de Deus[1] 

Um dos argumentos utilizados pelo meu interlocutor, por ocasião do frustrado debate, para justificar que só alguns iluminados poderiam conhecer algo sobre Deus e o seu propósito é o seguinte: “Certamente o Senhor JEOVÁ não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3.7).

Há algo sobre este texto que precisa ser melhor explicitado, pois ele não justifica que Deus e o seu propósito só sejam compreendidos pelos seletos iluminados, mas, por outro lado, que Deus não faz nada que não seja anunciado primeiramente. Noutras palavras, qualquer evento realizado por Deus teria um anúncio prévio, como foi o caso do dilúvio, do cativeiro babilônico e mesmo da vinda do Messias.

Obviamente que o Senhor fará conhecida a sua vontade primeiramente diante dos profetas, como ocorria no AT, ou do anjo da igreja, no NT. Mas não é disso que trata este texto. O objetivo aqui é discorrer não sobre quem está na condição de primeiro receber a revelação do conhecimento de Deus e de sua vontade, mas da abrangência da revelação de Deus aos homens, isto é, se todos seríamos ou não conhecedores potenciais da vontade do Senhor. 

Argumentos em favor da cognoscibilidade de Deus 
O salmista Davi expressa nos seus salmos uma das mais maravilhosas evidências de que Deus é um Ser que se revela através da criação do universo mesmo. Diz o salmista: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19.1).

O apóstolo Paulo é do mesmo parecer a ponto de até afirmar que o conhecimento de Deus visível na criação é razão suficiente para que ninguém seja tomado por inocente por ocasião do juízo. Diz o apóstolo:

“porquanto o que de Deus se pode conhecer neles [nos homens injustos] se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1.19 e 20).

Até mesmo noções morais básicas presentes em todos os homens denunciariam o conhecimento de Deus e sua vontade manifestada a todos:

“Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmo são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (2.14 e 15).

Paulo ainda dirá no Areópago, na presença de filósofos epicureus e estóicos, e antes de lhes anunciar a palavra do juízo vindouro de Deus, que o Senhor “não está longe de cada um de nós” (At 17.27).

Obviamente que esses textos não trazem uma definição explícita do que seria a revelação de Deus, na medida em que ela ocorre de maneiras variadas, conforme o propósito mesmo da vontade de Deus. Daí que os teólogos tenham dividido a revelação de Deus em geral e especial. Os exemplos acima fariam parte, então, daquilo que se pode chamar de revelação geral de Deus, pois ocorrem de forma natural, o que não invalida sua eficiência e poder de acusação por ocasião do Dia do Juízo (Rm 2.16).

A revelação especial consistiria na manifestação de Deus e de sua vontade através da aparição aos profetas, da inspiração dos escritores sagrados e do testemunho individual na vida de cada crente que mantém uma vida de comunhão com o Senhor.

Independentemente do fato de a revelação de Deus dar-se de forma natural ou especial, a verdade é que o crente em Cristo não estaria impedido de gozar da felicidade deste conhecimento.

Neste sentido, o cristão não seria uma espécie de fiel que esperaria profetas extraordinários aparecerem esporadicamente na história da Igreja expressando a revelação de Deus, recebida de forma especial e restrita. Por outro lado, a Escritura nos convence da necessidade de conhecermos a Deus e prosseguirmos nessa empreitada (Os 6.3).

Ademais, aos crentes verdadeiramente espirituais é dada “a mente de Cristo” (1 Co 2.16); esse mesmo crente é capaz de compreender as coisas do Espírito de Deus, que se discernem espiritualmente, pois “o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido” (v. 15). 

Conclusão 
Deus, portanto, e a título de encerramento, é um Ser de revelação. De nada adiantaria a existência da Escritura se não pudesse ser compreendida, embora essa compreensão esteja sujeita a uma espiritualidade sadia diante de Deus.

De qualquer modo há conhecimento de Deus visível a todos de modo natural, ainda que limitado, e conhecimento mais profundo e espiritual disponível a partir de uma vida dedicada a Cristo, “em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.3).

Nem tudo, entretanto, será conhecido por nós (Dt 29.29), nem toda experiência espiritual é uma experiência de compreensão da verdade de Deus e alguns terão maior parcela desse conhecimento verdadeiro, dada a sua posição e responsabilidade no Reino de Deus. Mas em nenhum momento aceitemos a ideia que Deus ou a sua vontade não podem ser conhecidos.



[1] Tratamos aqui não da incognoscibilidade absoluta de Deus, mas de sua limitação. Isto é, para alguns, Deus só seria conhecido de alguns seletos iluminados.

sábado, 26 de março de 2011

Personagens Bíblicos – Caim

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De Caim é dito na Escritura que é o primeiro filho de Adão e Eva, ou pelo menos o primeiro filho varão (cf Gn 4.1).

A história de Caim está em grande parte atrelada à vida de seu irmão, Abel, a quem matou, sendo este o primeiro homicídio registrado na bíblia. O assassinato de Abel parece estar relacionado à inveja de Caim, pois aquele tinha os seus sacrifícios aceitos por Deus ao passo que a oferta de Caim era rejeitada (v. 4 e 5).

Em Hb 11.4 temos que “pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo”. Isto nos faz refletir sobre em que residia a diferença entre o melhor sacrifício, donde haver o entendimento de que enquanto Abel trazia ao Senhor dos primogênitos das suas ovelhas Caim provavelmente não privilegiasse o melhor da sua lavoura (cf. v. 3 e 4). Há ainda a palavra do apóstolo João de que as obras de Caim eram más (1 Jo 3.12).

S.E. McNair sugere, entretanto, que a diferença entre os sacrifícios estava no fato de que desde o início, a partir da história do primeiro pecado e do primeiro sacrifício, sabia-se que um tipo de oferenda envolvendo folhas de figueira foi preterido pelo sacrifício de um animal, pelo fato de neste haver derramamento de sangue. Por não haver sangue em sua oferenda, “Caim, que trouxe o fruto da sua lavoura, devia ter compreendido que isso não seria uma oferta que Deus pudesse aceitar”[1].

Depois de assassinar a seu irmão, Caim foge de diante da face do Senhor. Ao receber de Deus o castigo de não mais ter seus esforços para extrair o sustento da terra abençoados (cf. v. 12) lamenta o fato de qualquer um que o encontrasse pelo caminho tentasse matá-lo. O Senhor então lhe dá um sinal para que isso não ocorra (cf. v. 15).

Caim, então, depois de sair de diante do Senhor, casa-se e edifica uma cidade à qual dá o nome do seu filho Enoque (v. 17).

Há muita especulação sobre com quem Caim teria se casado, dado o silêncio da bíblia sobre quem existia na terra nessa época. S.E. McNair nos diz: “com uma de suas irmãs”. Lembra-nos ainda de que “casamentos entre parentes foram proibidos uns 2500 anos mais tarde (Lv 18.6)” e que como Adão gerara filhos e filhas“, quando Abel morreu provavelmente havia muito mais gente no mundo do que se pensa”.[2]

O nome de Caim significa aquisição.[3]


[1] S. E. McNair. A Bíblia Explicada. Rio de Janeiro: CPAD, 1985, p. 21.
[2] Idem, Ibidem.
[3] A Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 38.