terça-feira, 9 de novembro de 2010

Grande Festa Pentecostal

Círculo de Oração HEROÍNAS DA FÉ
A Igreja Evangélica Assembléia de Deus (CIADSETA) de Esperantina esteve em festa neste último fim de semana (05 06 e 07 de novembro).

O coral da igreja local, a juventude e o Círculo de Oração reuniram-se num grande evento marcado pela exposição da Palavra de Deus, avivamento, louvores, jograis e outras apresentações.

Estavam presentes o Conferencista Pr. João de Aquino (GO), preletor da festa, e a cantora Rose Santos (TO), além de cantores locais e das cidades vizinhas.

Marcaram presença caravanas de Primeiro Cocal (MA), Buriti do Tocantins, São Sebastião do Tocantins, além de lideranças eclesiásticas da região.

A Banda Nova Aliança, da Assembléia de Deus de Sampaio, também esteve presente, fazendo belas apresentações e demonstrando muita habilidade e perícia na arte do louvor.


Uma grande festa!

Coral da Igreja Local


domingo, 31 de outubro de 2010

Cristãos em Tudo

Fonte: Web
Estas últimas eleições nos propiciaram uma reflexão cristã ainda não experimentada em situações anteriores.

O fato de o segundo turno das eleições presidenciais nos apresentar dois candidatos praticamente semelhantes em muitos aspectos - sobretudo o econômico, onde as diferenças entre os modelos apresentados por parte de cada candidato são tão pequenas a ponto se tornarem imperceptíveis - terminou por direcionar o foco da escolha do candidato ideal para aspectos outrora negligenciados no processo político.

No final das contas os cristãos começaram a atentar para questões do tipo: "Esse candidato contradiz, em seu modo de governar, algum princípio cristão?"

Uma sociedade ateísta como a em que a nossa está se tornando considerará questões como a acima descrita como algo irrelevante no processo político. Muitos brasileiros disseram que a campanha estava fugindo das questões essenciais e esbarrando em questões insignificantes porque religiosas.

Sabemos, entretanto, que, em que pesem as motivações apaixonadas expressas por muitos eleitores que se beneficiarão de alguma forma com os resultados das eleições, no final das contas há grandes similaridades entre os dois candidatos. Ambos representam praticamente o mesmo pensamento econômico neoliberal, tornando-se qualquer deles mero continuador do modelo atual, que beneficia mais quem já é abastado e continua a abrandar a situações dos menos favorecidos com medidas tão paliativas quanto desumanizadoras.

Daí que as diferenças reais entre eles, caso existam, tenham de ser percebidas em outros aspectos ou características dos candidatos e de um eventual governo de cada um.

Foi o que houve, por exemplo, com a questão do aborto e da anunciada desconstrução da heteronormatividade. E nesse ponto sejamos sóbrios: nenhum dos candidatos é preferível ao outro, na medida em que nenhum dispõe de uma trajetória cristã confiável a ponto de se tornar agradável aos cristãos.

De qualquer modo a situação serviu para propiciar aos cristãos brasileiros uma reflexão sobre o que se esperar de eleitores cristãos, como também o que se deve esperar de políticos eleitos por cristãos.

A maioria de nós, cristãos, tem relegado a vida cristã para o interior dos templos e, na melhor das hipóteses, para o interior dos lares, considerando tudo o mais que acontece fora desses dois contextos imediatos como campos que precisam estar fora de nossa atuação enquanto cristãos.

Para Nancy Pearcy isso decorre do fato de não termos desenvolvido uma cosmovisão cristã. Nosso cristianismo, segundo a autora, "é restrito a uma área especializada de crença religiosa e devoção pessoal."*

Como consequência dessa visão deficiente da fé cristã temos abdicado de uma postura correta não só nos processos eleitorais, mas em muitos âmbitos de nossa vida.

Se a esse processo eleitoral vivenciado ultimamente devemos o mérito de suscitar essa reflexão, por outro lado, assistimos a uma baixaria, muitas vezes, no processo de politização dos crentes. É que a maioria quer participar das discussões ou da correria eleitoral nos mesmos moldes em que a maioria das pessoas o faz, de forma interesseira, corrupta e inconsequente.

Tudo indica que o nosso processo de reflexão apenas começou. Precisa amadurecer com muita responsabilidade e senso bíblico.

Mas já é um bom começo.

Francisco Sulo
Esperantina, 31 de outubro de 2010.

*PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta: Libertando o Cristianismo de seu Cativeiro Cultural. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 21.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

CONSIDERAÇÕES SOBRE A DERROTA DO PR PEDRO LIMA NAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES


Permitam-me, irmãos, algumas considerações sobre as razões de o deputado Pr Pedro Lima não ter sido reeleito neste último 3 de outubro. Podem não ser razões convincentes mas poderão ajudar-nos nas próximas eleições.
Arrolarei aqui, portanto, alguns motivos que teriam engendrado a não aceitação por parte dos milhares de evangélicos, sobretudo assembleianos, à pessoa do Pr Pedro Lima, na condição de candidato (não vou tocar nos aspectos de sua pessoa enquanto presidente da CIADSETA-TO, não obstante esses aspectos, acredito, também terem influenciado na campanha).
1.       Em primeiro lugar é fato sabido que o candidato Pr Pedro Lima evitou o contato com os crentes na campanha eleitoral. Limitou-se a tratar com os pastores, desconsiderando o peso que o contato corpo-a-corpo exerce no processo eleitoral. Este contato não deveria ser aquilo que, em última instância, deveria definir uma vitória eleitoral, mas dadas as características afetivas do ser humano é importante não prescindir do corpo-a-corpo. Esta é uma lição que precisa ser aprendida. Os pastores, por mais esforços que tenham demandado, não supriram diante dos crentes aquela presença do candidato que só ele mesmo poderia demonstrar. Nas reuniões de área, como é o caso da nossa (4ª área) o coordenador até que tentou, mas suas atitudes deixaram subentender um caráter mais de obrigação e de dever corporativos do que a solidariedade em torno de um projeto político das Assembléias de Deus no Tocantins.
 
2.        Em segundo lugar – e isso é verdadeiro para muitos eleitores, inclusive pra mim – não ficou bem nítida a idéia de projeto político da Convenção. O que se pretenderia com esse projeto? Seria a mera participação no poder, inclusive através de cargos de primeiro escalão, ou a moralização do poder estadual através de uma forte atuação parlamentar com base em fundamentos cristãos? Nunca soubemos (os cristãos de banco) o que motivou o voto do deputado Pr Pedro Lima na eleição indireta ao governador Carlos Gaguim no ano passado, nem o que teria motivado de fato a sua oscilação entre os dois candidatos a governador na última eleição. Temos fortes indícios de corrupção no governo e muitos crentes gostariam de saber qual deveria ser realmente a postura de um político cristão numa Assembléia Legislativa ou Congresso. O país está cheio de políticos cristãos pragmáticos que não estarão dispostos nunca a confrontar o mal que subjaz aos processos políticos, pois isso lhe traria desconfortos, oposições, perseguições. Aliás, dirá alguém, isso é coisa pra “vermelhos”, idealistas, imbecis. Eu, entretanto, digo que é coisa para cristãos genuínos. Acredito, portanto, que para as próximas eleições esse projeto político seja melhor esclarecido e que se defina qual orientação política lhe servirá de substrato doutrinário – se o pragmatismo fétido, responsável por muitos dos males sociais, ou o cristianismo bíblico e genuíno. Há que se considerar ainda que muitos cristãos não estarão dispostos a acompanhar qualquer projeto político caracterizado pelo pragmatismo.
3.       Em terceiro e último lugar podemos mencionar uma certa incoerência do discurso político-religioso da campanha. Durante muito tempo tentou-se consolidar a idéia de que crente tem que votar em crente. Não foi o que vimos na prática. Não nos foram apresentados candidatos crentes para deputado federal senão num tom secundário, pois pelo menos na 4ª área, predominaram os discursos em favor do Sr César Halum e Leomar Quintanilha. Se não houve entendimento com o Pr Adalberto Leite que procurassem outro. O Dr. Roberto Urbano nos foi apresentado, mas não com tanta veemência como foram apresentados os candidatos descrentes. Acredito que, em certo sentido, é até mais importante termos deputados federais do que estaduais, pois é no Congresso que são feitas as leis a que tanto nos referimos como prejudiciais ao meio evangélico. Nosso tipo de federação é diferente do americano, em que cada estado pode ter leis diferentes sobre muitos temas. No Brasil as leis são feitas em nível federal e não estadual, o que necessariamente nos deveria fazer refletir mais sobre a importância de congressistas cristãos. Acredito que a Convenção pecou feio nesse aspecto, mas é um tropeço a ser superado nas próximas eleições.
Acima de tudo precisamos de projetos bem definidos. O mundo jaz no maligno, diz a Escritura (1 Jo 5.19) e ações bem coordenadas serão bem mais eficazes contra o mal que impera na sociedade. Um outro ponto é que o projeto político precisa ser pautado pela verdade, isto é, pelo cristianismo bíblico e genuíno.
Acredito que muitos de nós estaremos disponíveis a participar desse projeto e ajudar o Tocantins e o Brasil a vencer as suas desgraças. Basta que haja decência e ordem.
Que o Senhor nos abençoe.
Francisco Sulo
Esperantina, 06 de outubro de 2010.

domingo, 23 de maio de 2010

O PODER DA PALAVRA

Os estudos recentes sobre o livro do projeto Jeremias trazidos pela Lição da Escola Dominical me trouxeram reflexões que considero relevantes sobre o papel daquele que tem a função ou dom ou o ministério da Palavra de Deus ou da palavra em geral.

Os céticos obviamente lançarão um olhar preconceituoso sobre os profetas bíblicos, dada a importância que os oráculos sempre tiveram na manutenção dos sistemas religiosos opressivos, manutenção esta atribuída ao discurso religioso escatológico e apocalíptico com que os líderes religiosos (profetas) impunham o terror, a violência e a opressão nas comunidades religiosas, além de também utilizarem o discurso religioso para manter a desigualdade social ou a segmentação da sociedade.

Evidentemente que a ocorrência de sistemas religiosos opressivos e de profetas ou sacerdotes que lhes servem de oráculos, implantando a desigualdade e o terror não justificam que devamos acreditar na inexistência atual ou anterior de sistemas ou sociedades religiosas verdadeiros, bem como na inexistência de profetas ou líderes espirituais verdadeiros, como não deduziremos a inexistência da serpente coral verdadeira a partir da existência da falsa coral. O falso não anula o verdadeiro, mas dizermos que algo é falso e verdadeiro ao mesmo tempo e no mesmo sentido seria uma contradição.[1]

É por isso que cremos na Escritura Sagrada e que a mesma foi escrita por homens de Deus que falaram inspirados pelo Espírito Santo (2 Pe 1.21). Dentre estes estavam os profetas verdadeiros tais quais Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, dentre muitos outros. Evidência da honestidade e verdadeira espiritualidade desses homens foi o fato mesmo de sofrerem oposição em seu ministério, a ponto de terem sido maltratados, martirizados, perseguidos (cf Hb 11.36 e 37), afinal, falavam a palavra do Deus verdadeiro que naturalmente vai de encontro a toda sorte de impiedade cometida em qualquer sociedade humana.

A atividade de exercer a palavra, humana ou divina, entretanto, acarreta ao falante uma grande responsabilidade. Se os verdadeiros profetas bíblicos sofreram todo tipo de oposição em seu ministério é porque a palavra verdadeira, quando falada, causa inquietação e incômodo aos que vivem de forma impiedosa. Lembremo-nos dos efésios que enriqueciam às custas da fabricação de ídolos da deusa Diana (cf. At 19.23-41); dos homens que lucravam com a jovem que tinha espírito de adivinhação (cf. At 16.19), e ainda dos assassinos de Estêvão, o primeiro mártir cristão (cf. At 7).

Mesmo entre grandes homens não cristãos que defendiam ideais que consideravam verdadeiros percebemos a inquietação causada pelas palavras que falavam. Foi o caso de Sócrates, acusado impiedosamente por homens que viam em suas palavras uma possibilidade de transformação do status quo e que não retirou as suas palavras mesmo sob condenação.

Há custos para quem fala a palavra, sobretudo a Palavra de Deus. Por outro lado muitos benefícios efêmeros podem advir da palavra falada que agrada aos ouvintes, sobretudo os que estão em eminência.
Daí que muitos oradores estejam encabeçando fileiras de todo tipo de movimento que surge no mundo, sobretudo a grande rebelião suscitada por Satanás para pôr a humanidade contra Deus. Com os corações ensoberbecidos pelo conhecimento humano corrompido se auto-intitulam portadores da verdade em favor de correntes malévolas do pensamento humano, como é o caso do relativismo, do pragmatismo, do existencialismo ou, enfim, do ateísmo. São profetas que, a exemplo de Hananias, falam contra a verdade, predizem eventos que não podem acontecer e levam a humanidade à rebelião contra o Criador (cf. Jr 28).

Esses profetas falam por Satanás e sofrerão o juízo eterno.

Há ainda os profetas que querem agradar a dois senhores, como fez Balaão (cf. Nm cap. 22 e 23). O filho de Zipor queria a um só tempo falar a Palavra de Deus e receber presentes dos que queriam amaldiçoar o povo do Senhor. Quantos não estão querendo agradar a Deus e ao mesmo tempo falam palavras amenas para os ouvintes que não estão de acordo a ouvir o evangelho inteiro! Muitos profetas de Deus estão, em troca de presentes de todo o tipo, torcendo a Palavra de Deus para agradar a homens opressores, agentes públicos que, em vez da justiça, exercem a opressão e a impiedade, mas que têm sobre si a bênção do líder espiritual ou profeta que deles se beneficiam de qualquer forma.

Alguns reis de Israel mantinham profetas de plantão para situações em que o povo precisasse ser dobrado às exigências do monarca idólatra (cf. 1 Rs 18.19). É lamentável que muitos profetas de Deus da atualidade estejam a serviço de autoridades corruptas da nação, em troca de favores, cargos, prestígio, privilégios, e em prejuízo da verdade de Deus.

Não nos esqueçamos dos jovens obreiros, oradores influentes e de futuro promissor na obra de Deus, que se curvam aos caprichos de líderes espirituais corrompidos e corruptos, que não têm mais a visão de Deus; tais jovens trocam a honestidade e um viver na Palavra de Deus por acessos a postos mais elevados nas hierarquias eclesiásticas, com o fim de formar os esquadrões de profetas de plantão. Não devemos confundir obediência às autoridades civis ou eclesiásticas com deixar de lado as Palavras de Deus. Se não puder haver um equilíbrio é imperativo optarmos pela Palavra do Senhor (At 5.29). Atentemos para a triste sorte de Hananias! (cf Jr 28.16 e 17).

Lidar com a palavra, portanto, requer responsabilidades, compromissos. Ou falamos em favor da verdade ou da mentira e quando falamos movimentamos idéias, opiniões, servimos de guia aos outros, de mestres, implantamos a justiça ou a injustiça. Nada mais conveniente do que sermos julgados por todas as nossas palavras (cf Mt 12.37).

Que o Senhor nos dê palavras de profunda sabedoria para falarmos uns aos outros.

Francisco Sulo
Esperantina, 23 de maio de 2010.

[1] Cf. as explicações de Sproul sobre contradição em: R. C. Sproul. Defendendo sua Fé: Uma Introdução à Apologética. Rio de Janeiro: CPAD, 37-38.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

MUNDANISMO NA IGREJA

O discípulo amado, em sua primeira epístola, fez-nos admoestações importantes concernentes a não amarmos o mundo, pois há incompatibilidade, segundo ele, entre amarmos o mundo e sermos amados pelo Pai (1 Jo 2.15). O apóstolo ainda dirá, mais tarde, que o mundo jaz no maligno, mas que podemos vencê-lo pela fé (5.4, 19). Quando olhamos o texto da tentação de Jesus vemos que Satanás ofereceu coisas consideradas importantes e gloriosas do mundo para Jesus (Mt 4.8). Tiago, o irmão do Senhor, deixou bem claro para os irmãos da sua época e para toda a posteridade que a verdadeira religião consiste, dentre outras coisas, em guardarmo-nos isentos da corrupção do mundo (Tg 1.27). O Mestre, por sua vez, falou-nos que nada aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida. Mesmo assim, Jesus, o filho único de Deus, foi enviado para morrer pelo mundo (Jo 3. 16).

Pelo que podemos compreender dos textos acima, percebemos que a palavra “mundo” apresenta uma certa polissemia ao ser empregada na Escritura. O significado do termo é tão rico quanto o é a variedade de incoerências que percebemos no mesmo emprego da palavra atualmente no meio cristão.

Desde nossa infância na igreja percebemos nos sermões pastorais as admoestações relativas aos perigos que o mundo representa para a igreja e os exemplos mais comuns que nos são dados dizem respeito às vestimentas, cabelo, namoros, uso de aparelhos eletroeletrônicos, contato com descrentes, dentre outros. Quando encontramos no nosso meio cristãos que fogem aos padrões nesses aspectos relacionados nós os consideramos mundanizados e à medida que os anos se passam vemos a igreja mais mundanizada, considerada a mundanização nos aspectos em que apresentamos aqui. Neste contexto, vemos as igrejas num dilema: aceitar alguns aspectos da mundanização, considerados muitas vezes irrelevantes diante do corpo doutrinário central da Escritura ou manter a postura rígida contra o mundanismo na igreja – a primeira atitude poderá arrebanhar mais fiéis, inclusive aqueles que consideram o viver cristão por demais austero, e a segunda, por sua vez, apresenta o risco aparente de continuar estagnada no que diz respeito ao aumento do número de membros. Fica fácil saber qual é a posição que as igrejas assumem no seu dia-a-dia.

Cumpre-nos, entretanto, rever aquilo que compreendemos atualmente como mundanismo atentando mais acuradamente para o que a bíblia parece querer expressar quando utiliza o termo mundo. Não queremos aqui dizer que a Escritura não mantenha uma postura consolidada com respeito ao modo como os cristãos devem trajar-se ou usufruir dos avanços tecnológicos, mas o que parece ficar evidente para nós é que os textos bíblicos pretendem conduzir-nos não apenas àquilo que na verdade seria apenas conseqüência do mundanismo – o modo de vestir-se, por exemplo – , mas ao que realmente fundamenta o mundanismo. Donald Stamps diz-nos que a palavra “mundo”, do grego kosmos, refere-se na verdade ao

“vasto sistema de vida desta era, fomentado por Satanás”, o qual “emprega as idéias mundanas de moralidade, das filosofias, psicologia, desejos, governos, cultura, educação, ciência, arte, medicina, música, sistemas econômicos, diversões, comunicação de massa, esporte, agricultura, etc, para opor-se a Deus, ao seu povo, à sua Palavra e aos seus padrões de retidão”.[i]

Considerando o termo mundo desta forma, percebemos que nos encontramos muitas vezes combatendo mais as características visíveis, palpáveis ou secundárias do fenômeno mundanismo – como é o caso do vestir-se, da postura sexual, do cuidado com as tecnologias, etc – do que com os fundamentos do que realmente ameaça a Igreja em todos os tempos. Quando agimos assim simplesmente podamos uma árvore que continuará a brotar no seio da igreja, pois estamos atacando apenas as suas folhas ou galhos enquanto as suas raízes poderão estar fincadas continuamente no meio da igreja. Ademais, quando resolvermos atacar as raízes mesmas do mundanismo perceberemos que as suas conseqüências atuais para a igreja vão para muito além dos aspectos relativos à indumentária, uso de tecnologias ou comportamento sexual e veremos que nosso comportamento cristão em geral, o que inclui o aspecto ético-moral, político e social encontra-se profundamente comprometido. Se as coisas realmente são assim, então estamos todos mundanizados, com nossas luzes embaixo do alqueire e na condição de sal sem sabor ou sem poder de preservação (Mt 5. 13-15).

É importante ainda, no intuito de reforçarmos o que temos dito até aqui, e aprofundando ainda mais esta concepção de mundanismo, mencionarmos a compreensão de John Stott em relação ao que significa mundanismo a partir da oposição constatada por ele entre intelecto e emoção, verificada efetivamente entre os crentes. Aos que negam qualquer possibilidade de se permitir a ingerência do intelecto nas coisas espirituais, pautando-se apenas por suas experiências espirituais elevadas sempre ao status de verdade última, inclusive a expensas da análise bíblica, Stott admoesta:

“Sinto muito ter de dizer que eles estão se auto-proclamando intensamente, como sendo crentes mundanos. Pois ‘mundanismo’ não é apenas uma questão (como fui ensinado a acreditar) de fumar, beber e dançar, nem tampouco aquela velha questão sobre embelezar-se, ir a cinemas, usar minissaias, mas o espírito do século. Se absorvermos sem qualquer exame os caprichos do mundo (neste caso, o existencialismo), sem que primeiro sujeitemos isto a uma rigorosa avaliação bíblica, já nos tornamos crentes mundanos.”[ii]

A análise do autor e sua definição de mundanismo, a partir de um exemplo prático, vêm fazer coro com o que apresentamos mais acima como sendo de suma importância para a igreja dos últimos dias – atacar o mundanismo em suas raízes para reduzir os seus efeitos no seio da igreja.

O exemplo analisado por Stott citado aqui envolve a polarização entre intelecto e emoção na vida de fé, mas o autor tratou de mais polarizações nesta sua obra, enfatizando sempre o modo como muitas vezes sacrificamos até mesmo a verdade bíblica em favor de uma noção culturalmente instituída – isto é, priorizamos muitas vezes aquilo que é do mundo em prejuízo daquilo que está claro na Escritura. É o caso, por exemplo, da polarização entre Evangelismo e Ação Social. Muitos cristãos consideram que não é também função da igreja melhorar a sociedade através de ações concretas, pois isso seria mundanismo. Stott, entretanto, cita Sir Frederick Catherwood, que assevera: “Procurar melhorar a sociedade não é mundanismo, mas amor. Lavar aos mãos da sociedade não é amor, mas mundanismo.”[iii]

Isso necessariamente deverá conduzir-nos a uma análise de todos os aspectos da vida dos cristãos da atualidade, pois através dela perceberemos em que faceta da nossa vida estamos sendo mundanos e em qual não estamos sendo. Para começar perguntemo-nos: Como temos agido no diz respeito às nossas responsabilidades sociais? Temos amado o nosso próximo e procurado ativamente o seu bem ou consideramos que isso é humanismo próprio de idealistas da sociedade? Sobre este ponto Stott diz-nos que

“um cristianismo que usaria a preocupação vertical [o ato da salvação de Deus na vida dos indivíduos] como um meio para escapar de sua responsabilidade pela vida comum do homem é uma negação do amor de Deus pelo mundo, manifestado em Cristo.”

Diz-nos ainda que “deve tornar-se claro que membros de igreja que de fato negam suas responsabilidades com o necessitado em qualquer parte do mundo são tão culpados de heresia quanto todos os que negam este ou aquele artigo de Fé”.[iv]

Se quisermos, portanto, não sermos mundanos neste aspecto de nossa vida de fé precisamos assumir nossas responsabilidades sociais, reconhecendo que “o problema jaz em encontrar o equilíbrio entre ‘proteger nossos próprios interesses’ e ter preocupação adequada pelo próximo, onde quer que ele esteja.”[v]

Perguntemos, em seguida: Como temos agido enquanto agentes políticos? Temos levado em conta a Escritura, através da qual Deus estabelece como fim dos governos o bem da sociedade (Rm 13.4a), ou temos acatado as práticas mundanas de enriquecimento próprio e favorecimento de grupos em prejuízo dos que mais precisam das ações do governo?

Também neste aspecto, se não quisermos, na condição de agentes políticos, andar conforme o mundo, precisamos olhar para a Escritura e não para o que o mundo ensina. Um exemplo clássico de mundanismo na política foi o pragmatismo de Jeroboão I. Mesmo tendo a promessa de Deus de que governaria sobre dez tribos, este rei receou no seu coração e, tomando conselho (fora da Escritura) fez dois bezerros de ouro para que Israel os adorasse nos dois extremos do reino (Dã e Berseba), sem que precisassem ir a Jerusalém adorar o Deus Verdadeiro (1 Rs 11.31;12.26-33). E para os que consideram que as ações políticas estão fora da esfera da religião e da verdade e, portanto, do pecado, foi registrado na Escritura que “este feito se tornou em pecado” (v. 30).

E na área moral, será que andamos conforme a ortodoxia bíblica ou também estamos sendo mundanos? Será que ainda sabemos a diferença entre o bem e o mal, o falso e o verdadeiro, ou estamos considerando que a verdade é relativa, à maneira dos relativistas? Estamos regulando nossos comportamentos sexuais pautados na Escritura ou na moral mundana? Será que o nosso modo de vestir-se espelha a visão bíblica de sexualidade ou a visão mundana? E sobre o casamento? E nossas noções de justiça, sinceridade, honestidade, retidão e pureza? Ainda as consideramos à luz dos textos bíblicos ou já foram substituídas pelas noções relativistas?

Esta pergunta nos suscita uma seguinte, no campo epistemológico: ainda cremos numa Verdade Absoluta acessível pela revelação de Deus? Ou será que, bem no fundo de nosso ser, achamos que o cristianismo é uma mera manifestação cultural de um grupo milenar?

A título de conclusão, podemos dizer que estas questões, evidentemente, podem ser aplicadas a muitas outras situações de nossa vida, aqui não mencionadas, mas fica o convite para as indagações à luz da verdade bíblica: Em que aspecto de minha vida estou vivendo ou agindo conforme o mundo e não segundo Cristo? Tais indagações certamente nos ajudarão a compreender admoestações bíblicas como as de João, de que não devemos amar o mundo, e expressões do tipo “o mundo jaz no maligno”, pois o príncipe deste século é o diabo, o pai da mentira (Jo 8.44). Sob sua influência é que foram e são elaboradas as filosofias e pensamentos que em geral fundamentam a base da existência humana em todos os aspectos de suas vidas. Para o cristão é imperativo destruir essas fortalezas através do resgate do modo de viver humano em geral, submetendo-o aos modelos bíblicos. Nossa estratégia não deve ser apenas defendermo-nos, mas atacarmos. Não com armas materiais, mas com as armas espirituais, tendo o cuidado de levarmos cativo todo entendimento a Cristo (2 Co 10.5) e não nos deixando sermos seduzidos pelo mundo.

Francisco Sulo

Esperantina, 15 de fevereiro de 2010.




[i] Donald STAMPS. Bíblia de Estudo Pentecostal, Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 1957.

[ii] John R. W. STOTT. Cristianismo Equilibrado. 3ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 23 (grifos nossos).

[iii] Idem, Ibidem, p. 57.

[iv] Ibidem, p. 63, 64.

[v] Dennis MCNUTT. Política para Cristãos (e outros pecadores). In: Panorama do Pensamento Cristão. Rio de Janeiro: CPAD, p. 438.