sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Antiintelectualismo

Francisco Sulo[1]
Vivemos uma era de paradoxos. Um desses paradoxos está relacionado ao modo como se lida com o conhecimento nos últimos tempos. Por um lado temos a chamada “sociedade da informação” ou sociedade do conhecimento”, caracterizada pela ampla difusão do saber, levada a cabo pelo avanço da tecnologia informacional. Não obstante a veiculação em massa do saber assistimos à demência de grande parte das pessoas em processar essas informações divulgadas pelos meios de comunicação, transformando-as em conhecimento sólido, digno de veracidade. Enquanto muitos recebem sem criticidade as informações veiculadas, comprometendo assim as suas crenças fundamentais sobre o universo e o homem, muitos outros ainda se mantêm distantes dessa sociedade do conhecimento. Noutras palavras, há muita informação veiculada mas há também, sobretudo entre as massas de países que não acompanharam o processo de industrialização ou mesmo entre os que estão em pleno processo, como é o caso do Brasil, um sentimento de repúdio ao saber que podemos denominar de antiintelectualismo.
Neste contexto cumpre à Igreja realizar uma reflexão sobre o processo educacional cristão no sentido de perceber as conseqüências que o antiintelectualismo traz para os fiéis, considerando-se que a Igreja do Senhor não está imune a esse mal. Para Valmir Nascimento, educador cristão, “esse mesmo espectro de antiintelectualismo surge freqüentemente para perturbar a igreja cristã, fazendo-a descrer tanto do ensino teológico sistematizado quanto da educação secular’.[2]
Não é raro vermos irmãos enfastiados da leitura e do ensino da Palavra de Deus, assim como é raro vermos um estudante secular verdadeiramente dado aos livros e aos estudos intensos. Pesquisa recente afirmou que o aluno brasileiro lê voluntariamente em média 1,7 livros por ano, motivo pelo qual esses mesmos alunos figuram entre os mais baixos níveis de compreensão e interpretação de textos em avaliações internacionais, como o Pisa.[3] Infelizmente, dentre esses mesmos alunos, aqueles que freqüentam a igreja mantêm a mesma apatia para com a Bíblia Sagrada e os ensinos da Palavra de Deus, sem falar da oração, do jejum e da consagração a Deus, práticas desprezadas pelos jovens destes últimos dias.
Este contexto de intelectualidade impõe à igreja, e especialmente à EBD, a preocupação para com a educação cristã, sobretudo quando se têm em mente que os cristãos precisam em todo o tempo “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd v.3) e estarem “sempre prontos para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15). E se o cristão precisa estar inteirado da Palavra de Deus, através de meditações individuais ou ao ouvir preleções no templo, é também verdade que a Igreja precisa incentivá-lo na vida de estudos secular, para que os jovens cristãos também conquistem o seu espaço no mundo do trabalho e nas instâncias de poder do país.
Uma razão especial para que os cristãos não estejam de acordo com um “cristianismo de mente vazia” é a necessidade cada vez mais premente de se enfrentar a enxurrada de filosofias e conceitos ateístas e prejudiciais à fé que estão ocupando o cenário atual seja nas escolas ou até mesmo no interior das comunidades cristãs. César Moisés Carvalho, pastor, pedagogo, escritor, articulista e conferencista cristão, nos diz que precisamos “criar uma contracultura, ou seja uma ‘cultura com o fim de combater os valores culturais vigentes’”.[4] Para tanto faz-se necessário, diz o autor, produzirmos cultura cristã, “oferecer pasto para as ovelhas em vez de simplesmente uma cerca de arames farpados”.[5]
Somando-se a uma vida de oração, jejum e consagração uma atitude de deleite nos estudos bíblicos, evidentemente que o nível de espiritualidade da Igreja e as bênçãos do Senhor crescerão significativamente. É importante também enfatizar que estes aspectos da fé estão intrinsecamente relacionados, isto é, a própria prática de oração e jejum poderão ser resultados de uma maior dedicação aos estudos bíblicos, enquanto que a fome e sede da palavra de Deus poderá ser também suscitada pela dedicação que alguém dá ao tempo de oração e jejum. Uma visão reducionista poderá privilegiar apenas um desses aspectos, o que seria um equívoco.
Tomado dessa perspectiva, o progresso da Escola Bíblica Dominical poderá ser conseguido e poderão se vislumbrar, a partir daí, classes mais lotadas e ansiosas tanto para aprender de Deus quanto para ensinar às pessoas não-cristãs as verdades da salvação.
[1] Superintendente de EBD.
[2] Ensinador Cristão, nº 30, CPAD, p. 27.
[3] http://www.anj.org.br/jornaleeducação
[4] Ensinador Cristão, nº 30, CPAD, p. 9.
[5] Idem, ibidem.

2 comentários:

Isaias Pereira SIlva disse...

Caríssimo Irmão Sulo, o anti-intelecutualismo está, infelizmente, prejudicando a possibilidade da existência de um "Cristianismo Racional" bem mais sólido e enraizado no conhecimento do meu porquê de ser cristão. As pessoas que desconhecem as raizes históricas de sua religião, muitas vazes, vivem um cristianismo de fantasias e, inclusive, muitas pessoas arrogantes e ignorantes, não se abrem para o novo. Permanecem fechadas em seu mundinho, não querendo especular ou questionar nada!
Esses dias um amigogo meu, padre, disse para mim que as funções eclesiásticas da Igreja são absolutamente divinas, portanto são irrefutáveis, são inquestionáveis!Um padre desses, para mim, é pouco evoluído e/ou carente de um aprofundamento teológico das coisas, inclusive do sacerdócio ministerial da Igreja.
Mas, confio em Deus que o Intelectualismo nos ajuda a ter muito mais compreensão e até mesmo a consciência de que não somos os únicos seres humanos a habitarem a terra!
Em outras palavras, podemos e devemos, para irmos ao céu, desvendar, de certa maneira, os mistérios cristãos que, sem dúvida, muitos católicos e evangélicos desconhecem! Muitas vezes, ou quase sempre, o ensino secular abre portas para comprendermos melhor as especulações teológicas.
Uma pesquisa feita por um grupo de teólogos católicos e protestante mostra comprovadamente que o Diabo não existe, acontece que o vaticano não deixou promulgar essa descobertas alegando que o mundo não está preparado para ouvir isso. E, também, porque se tirar o Diabo das igrejas extingue as contribuições pecuniárias que cada fiel faz!

Isaias Pereira Silva

DELIEL BARBOSA disse...

admiro muito seu mode de ver e interpretar as coias, onde suas imterpretações e visões são bem convicentes, de modo que vc chegar a ser uma grande arma nas mãos Deus neste mundo odierno, inrepriensivél que jás nas mãos das coias MEFISTÓFELICA!!!... parabéns. admiro vc.