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Esaú e Jacó |
A busca pelas bênçãos do
Altíssimo deve prescindir dos meios honestos? Abençoaria o Senhor os seus fieis
incondicionalmente a despeito das estratégias utilizadas por estes para
alcançar o favor divino? Utilizando um exemplo bíblico: a bênção de Jacó foi
proporcional aos seus esforços para alcançar a bênção do Altíssimo, não
obstante o caráter suplantador de seus métodos? Nestes dias de visíveis “negociações”
com o Senhor e completo descaso com os seus princípios faz-se necessária uma
discussão sobre qual é o verdadeiro caminho que devemos seguir para sermos
abençoados por Deus.
1. A
bênção é segundo a vontade de Deus.
A primeira coisa que devemos
relembrar é que as bênçãos do Senhor não se derramam a nosso bel prazer.
Noutras palavras, não dependem apenas de nosso clamor ou de nosso dinheiro para
que sejam derramadas sobre nós, sobre nossa família, nossos bens, nossa
congregação, nossa vida espiritual. A Escritura é enfática a esse respeito: “E
esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua
vontade, ele nos ouve” (1 Jo 5.14). Neste sentido, nem todo clamor poderá ser
respondido, pois a Deus pode não interessar que você receba algo ou que algo
lhe aconteça segundo a sua própria vontade, à revelia da vontade do Altíssimo.
Não se trata de injustiça da parte de Deus, considerando que tudo que nos vem
da Sua parte “contribui juntamente para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm 8.28).
2.A bênção é segundo a obediência a Deus.
Uma vez conscientes de que a
bênção de Deus é conforme a vontade dEle, não nos custará admitir que os
métodos ou estratégias de se buscar a bênção também devem ser de acordo com a
Sua palavra. Como bem asseverou o apóstolo João: “... e qualquer coisa que lhe
pedirmos, dele a recebermos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o
que é agradável à sua vista” (1 Jo 3.22). Daí, portanto, que não é necessário
que sejamos experts em estratagemas
ou maneiras de se buscar a Deus ou “negociar” com ele, sobretudo porque tais
métodos vão de encontro à necessidade de se obedecer a Deus, que a todos
abençoa liberalmente, conforme a necessidade que o mesmo Senhor conhece muito
bem (cf. Tg 1.5).
3. Jacó,
o suplantador.
Não obstante as conclusões acima a
serem admitidas, muitos cristãos ainda creem que o caminho da bênção deve ser
trilhado conforme métodos desonestos de negociação. Aliás, com Deus sequer há
negociação – ou nos submetemos à sua vontade (Ele é justo!) ou não somos
abençoados. Quantos talvez não celebram os métodos de Jacó pela suposta
eficácia obtida através deles! É de se questionar essa eficácia por algumas
razões:
3.1 A desonestidade de Jacó fez parte da sua
vida até o momento da luta com o Anjo.
É preciso situarmos as práticas
desonestas de Jacó, no que diz respeito à sua busca das bênçãos de Deus – a primogenitura
e a ampliação do seu rebanho – no período anterior à sua verdadeira conversão,
que teria ocorrido somente muito tempo mais tarde, quando foi ao encontro do
seu irmão Esaú (cf. Gn 32.22-32). Jacó o enganara ao se apossar da
primogenitura utilizando de chantagem (Gn 25.24-34). Faz-se necessário
enfatizar que Deus não condenou a atitude de Jacó em valorizar a primogenitura,
mas não podemos, por outro lado, acreditar que seu sucesso espiritual decorreu
de suas peripécias contra sua própria família. A bênção da primogenitura era
algo que já pertencia a Jacó na presciência divina (25.23) e não é correto
acreditar que somente buscando-a desonestamente ele tomaria posse dela. Se a
conquista da bênção demandaria atitude, não seria, deve-se acreditar, através
de atitudes mentirosas e fraudulentas.
A luta com o Anjo no vau de
Jaboque revela-nos duas maravilhas vivenciadas por Jacó: (1) Um novo nome lhe
foi dado – Jacó, que significava suplantador, foi substituído por Israel,
aquele que luta com Deus (32.28; Ap 2.17). (2) O próprio Jacó testifica de sua
experiência transformadora ao dizer: “Tenho visto a Deus face a face e a minha
alma foi salva” (v. 30).
3.2 O contexto geral das Escrituras não
favorece a ideia de que a bênção deve ser buscada de modo alheio à vontade de Deus.
Devemos considerar que a fraude,
o engano, a trapaça, vão de encontro ao mandamento do amor ao próximo. Mesmo
que o desejo pela bênção seja intenso deve-se evitar a fraude contra o irmão. O
Senhor se expressou através do salmista Davi, dizendo: “O que usa de engano não ficará dentro das minhas
portas; o que profere mentiras não
estará firme perante os meus olhos” (Sl 101.7, grifos nossos). A parte dos
mentirosos será “no lago que arde com fogo e enxofre” (Ap. 21.8).
Lamentável que num tempo em que
os valores mais buscados são os materiais, a fama, o sucesso, as riquezas, o
poder, mesmo os cristãos não avaliam suas atitudes ao perseguirem determinados
objetivos. A fraude ocorre contra o irmão, o vizinho, o colega e o próprio Deus
(que não se deixa escarnecer [Gl 6.7]). Lideranças políticas cristãs ignoram a
lei do céu e a dos homens ao generalizarem a mentira, a fraude, o engano e a
trapaça em sua peregrinação rumo ao poder terreno – e eclesiástico? – , muitas
vezes atribuindo a Deus o sucesso de suas conquistas, realizando cultos de
louvor e gratidão por algo que nunca teve a participação do Senhor.
4. Pedir,
buscar, bater (Mt. 7.7 e 8).
As bênçãos de Deus precisam ser
valorizadas e perseguidas. O sucesso de Jacó precisa ser avaliado levando em
conta não suas fraudes, mas o modo intenso como valorizava a bênção da
primogenitura e sua disposição em lutar com Deus pelas bênçãos que buscava (Gn
25.31; 32.28).
O Novo Testamento nos oferece,
portanto, a receita para sermos abençoados: pedir, buscar, bater. Segundo a Sua
vontade, Deus nos ouvirá, pois a oração de um justo pode muito em seus efeitos
(Tg. 16). Se algo que estamos perseguindo há muito tempo ainda não nos foi
entregue, isso não é sinal de que precisamos inovar nos métodos de busca. Basta
lembrarmos que o Senhor sempre quer o nosso bem.
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